O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 28 de março de 2014

DE AMORES E FLORES


Não vede como conquistas os vossos amores.
Nem como bens ou propriedades que vos pertençam; nem como troféus que necessiteis ostentar perante a sociedade, para que todos reconheçam o vosso valor.
Vede-os, antes, como realmente são: dádivas que a Vida vos oferta, para amenizar a vossa caminhada; flores que a felicidade vos traz, para conhecerdes o seu perfume.
Sabei que não vos pertencem; e como um dia vieram, um dia se irão. E de nada vos adiantará querer retê-los; como não podeis reter os raios de sol que vos acariciam o rosto.
Tende presente também que, como flores que são, não podem durar para sempre. Mas se a eles atentos estiverdes, por certo desfrutareis de todo o seu encanto.
O botão, tímido  ao brotar, atinge o esplendor da sua beleza ao desabrochar; e antes de fenecer lança aos ares o seu doce aroma e adorna o jardim com a sua presença.
Assim são os amores, em vossas vidas. E também eles necessitam de vossa atenção e vossos cuidados, para que possam florescer plenamente em vossos corações.
Zelai por eles, portanto. Vigiai os vossos pensamentos e as vossas atitudes para com o ser amado; lembrai-vos de que  pequeninos furos pode fazem ruir grandes represas.
Resisti à tentação de impor as vossas vontades. Apaixonada ou não, cada pessoa é um ser à parte e tem os seus próprios desejos, as suas próprias ideias e crenças.
Conviver não é uma luta de vontades, mas a arte do entendimento,  que consiste em alternar a supremacia. Aquele que cede sempre não cultiva o amor, mas a revolta. 
Tende a humildade de reconhecer os vossos erros; porque ninguém pode estar certo ou errado todo o tempo e nada apaga o ressentimento, senão o sincero perdão.
Não economizeis as vossas carícias; pois nem a mais pura e valiosa das sedas é mais agradável ao toque, para o enamorado, que a pele macia da pessoa amada.
Ofertai, sem medo, o vosso carinho e a vossa ternura. Porque o ser humano tende a retribuir aquilo que recebe; quanto mais os oferecerdes, mais os recebereis de volta.
Cultivai, em vós, o fogo da paixão. No altar da vossa libido, celebrai o corpo de quem amais; que seja ele o ícone do vosso prazer infinito, incensado com a fumaça pagã do desejo.
Cuidai, sim, dos vossos amores. Não porque assim os possais manter para sempre, uma vez que são flores; mas porque só assim experimentareis a magia do Amor.
E por algum tempo sereis felizes.    

sexta-feira, 21 de março de 2014

O CANSAÇO E A JORNADA




Momentos existem em que o cansaço é grande demais.
Em que os ombros se vergam, não ao peso dos anos, mas sob as cargas da vida. Em que as luzes se apagam, o colorido se vai e tudo que resta é o limbo cinzento do caminho.
Momentos em que a solidão parece preencher o mundo; em que as estrelas somem no céu, o sol se esconde no horizonte e o frio do desânimo enregela o viajante aflito.
É quando se questiona o passado, se despreza o presente e não mais se acredita no futuro. É quando tudo parece inútil, os obstáculos intransponíveis, as forças insuficientes.
É quando se anseia por um milagre; como o homem perdido no deserto rasteja à procura da água salvadora do oásis e o ateu, às portas da morte, busca acreditar em Deus.   
É então, que vem o desejo de interromper a jornada; de abandonar a caravana, de antecipar o descanso. A tentação de desistir da luta, de apenas deitar à margem da estrada.
A vontade quase irresistível de repousar o corpo cansado; de pousar a cabeça sobre o solo, sentindo o cheiro da grama e ouvindo o vento assobiar a canção do esquecimento.
O desejo de não-ser. De enterrar os sonhos já mortos e renunciar àqueles que ainda teimam em viver; de fundir-se às brumas do passado, até tornar-se apenas uma lembrança.
A tentação de mergulhar no nada. De afundar nas águas do tempo, de deixar para trás esperanças e decepções; de desligar-se do mundo e viajar no vazio entre as estrelas.
A tentação é grande. Porém, é preciso lembrar que esta não é a jornada; apenas uma etapa. O caminho continua além do horizonte e a paz não é uma dádiva, mas uma conquista.
Ao Universo, cabe determinar a duração de cada etapa; e a Eternidade é o limite da jornada. Não é sensato, portanto, aquele que tenta fugir ao aprendizado de que necessita.    
É preciso sacudir a poeira, levantar a cabeça e seguir viagem. Ainda que possam sangrar os pés e chorar o coração; ainda que aos tropeços e caindo a cada passo.
É preciso ser forte, ainda que a alma grite a sua fraqueza; suportar a solidão, embora ansiando por um gesto de carinho. E cantar, mesmo que o mundo não entenda a canção.
Porque é necessário superar o aprendizado, para adquirir o Conhecimento; vencer o desejo de vingança, para chegar ao perdão; e concluir a viagem, para desfrutar da chegada.
É preciso merecer as asas, para poder voar. 

Música: http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/jaimevillalba-nocturne.mid

sexta-feira, 14 de março de 2014

OUTONOS E PRIMAVERAS


Sim; foram muitas as primaveras da minha vida.
E cada uma delas fez florescer um novo sonho, que me trouxe forças para seguir em frente. Porque são os sonhos que sustentam os nossos passos, durante a caminhada.
Muitos foram, porém, os outonos que vivi. E cada um deles corresponde a um sonho morto, que vi tombar sobre o chão, juntando-se aos outros que atapetavam o caminho.
É a lei da Vida; como as primaveras e os outonos se alternam na natureza, sucedem-se os sonhos e os desenganos, ao longo dos anos que nos cabem em cada etapa da jornada.
Assim precisa ser; porque não atingiremos o Conhecimento sem as alegrias e as tristezas que nos fertilizam o coração, para que nele possa brotar a semente do aprendizado. 
Deixai-me dizer-vos, portanto, que se ao Universo agradeço as alegrias que conheci, sou igualmente grato pelas muitas vezes em que a tristeza visitou a minha alma.
É preciso que no outono as folhas morram e caiam sobre o chão, para que na primavera possa o verde reflorir nos galhos desnudos, trazendo nova vida à árvore cansada.
Porque difícil não é permanecer de pé, mas levantar-se depois da queda; voltar a acreditar, depois que a esperança se foi; abrir um novo sorriso, entre lágrimas que teimam em rolar.
Difícil não é seguir em frente; porque a Vida nos arrasta para diante, no fluxo do tempo. E ninguém existe que possa assentar-se às suas margens, estacionar em seu caminho.
Difícil é recobrar o calor do entusiasmo, depois do banho gelado de um fracasso. É recuperar a candura infantil, depois que a maturidade nos desperta para a desconfiança.
Entretanto, nisto consiste o aprendizado. Não existe mérito na inocência, que é a ignorância do pecado; mas na pureza, que é triunfar sobre ele depois de havê-lo conhecido.
Acostumai-vos a que felicidade e sofrimento se alternem em vossas vidas; é necessária a alternância das estações, para que o fruto adquira todo o seu sabor.
Não deveis, portanto, desesperar quando as folhas dos vossos sonhos tombarem sobre o chão frio da realidade; outras as substituirão, quando for o tempo certo.
Acreditai, sempre, que as folhas caídas amenizarão a dureza do solo sob os vossos passos; e uma nova primavera virá, para que mais uma vez os sonhos enfeitem as vossas vidas.
Até que chegue um novo outono. 
Texto sugerido pela bela imagem, que encontrei na internet. 
 Música: http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/rogerwilliams-autumnleaves-unem.mid
  

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