UM SONHO DE NATAL

Sonhos existem, que jamais serão realizados.

É necessário, entretanto, que sejam sonhados. Pois também os botões que não chegarão a abrir-se compõem a beleza e o perfume da roseira, que tanto vos encantam.

E os sonhos lindos de uma noite vos acompanham e tornam felizes, ainda que se esfumem aos primeiros raios do sol que renasce sobre o mundo, em uma nova manhã. 

Como os homens, as ilusões sobrevivem a si mesmas. E, como os homens, serão tão mais lembradas quanto mais fortes forem as emoções que despertaram ao seu redor.

Vivei, portanto, com intensidade cada um dos vossos natais. E, embora seja certo que em cada ano tereis alegrias e tristezas, acalantai os vossos sonhos de ano novo.

Porque é igualmente certo que assim os vivereis, ao menos por um instante.  Como Papai Noel voará em seu trenó, enquanto existir a esperança no coração de uma criança.

Adornai, sim, as vossas árvores com os enfeites mais lindos e as luzes mais brilhantes, que simbolizam o vosso sonho de amor e paz para o mundo e as vossas almas.

Trocai, sim, os vossos presentes; porque são os símbolos do afeto que sentis por aqueles que amais. E nesta época, mais do que nunca, quereis mostrar o vosso apreço.

Armai, sim, os vossos presépios; e pendurai as vossas guirlandas, e decorai as vossas casas, e ouvi as músicas tradicionais. Porque estes são os símbolos do Natal.  

E o homem necessita de símbolos, para mostrar e entender as suas emoções. Outra não é a razão dos vossos anéis de compromisso, nem das vossas cerimônias.

Recordai, entretanto, que mais importante não é o símbolo, mas aquilo que representa. E, se passado o Natal encaixotai os vossos adornos, não o deveis fazer aos sentimentos.

Buscai conservar em vossos corações, durante todo o tempo, o espírito que nestes dias vos domina. Abrigai a tolerância, a alegria, a fé, a compreensão e, acima de tudo, o amor.

É assim que um dia, talvez, vos será dado realizar os vossos sonhos. E neste dia não mais existirão casas sem ceia, crianças sem presentes, idosos sem o calor de um abraço.

É assim que um dia, talvez, tereis um mundo novo. Pessoas sem preconceito, religiões sem dogmas, países sem fronteiras, a humanidade sem medo e sem ódio.

É assim que um dia, talvez, teremos o verdadeiro Natal.

 

Feliz Natal, amigos; na sexta-feira vindoura, não teremos postagem.
Obrigado pela companhia, no ano que termina; feliz 2014!          

EM TODO CASO DE AMOR

É certo: em todo caso de amor, existe alguém que ama mais.  

E é igualmente certo que este mais se doará; que fará os maiores esforços, para manter vivo o seu amor. E lhe caberá o quinhão maior de sofrimento, se um dia o sonho findar.

É assim que é. E assim deve ser, porque ao homem que mais desfruta a delícia das águas límpidas cabe ter o maior cuidado com a nascente onde se retempera e dessedenta.

Não é o agricultor, que com seu amor e seu suor lavra e semeia a terra, o mais feliz ao ouvir a canção do vento nas hastes do trigal e admirar o seu balanço dourado ao sol da manhã?

Não é para aquele que mais duro labuta durante as horas do dia, que mais doce se torna o descanso honesto e merecido de uma boa noite de sono, sem sustos e sobressaltos?        

Que me importa saber qual de nós é aquele que mais ama? De que me serve avaliar as nossas maneiras de amar, se cada um ama do seu próprio jeito e da sua forma de ser?

Por que tentar medir o teu amor, se eu te amo e o simples fato de existires já faz mais bela e completa a minha vida? Acaso, reduzir a distância que separa poderá amenizar a saudade?  

Eu te amo, e te amaria ainda que não me amasses. Porque o amor apenas existe e basta-se a si mesmo; como o fogo, que se nutre da própria chama, e a fé, que se alimenta da esperança.     

Preocupa-se a flor em ser mais bela que as suas irmãs, ou busca apenas o seu lugar ao sol? E ao canário não satisfaz mais o seu trinado humilde, que o canto do rouxinol?

Aquele que ama a rosa será capaz de evitá-la, por medo dos seus espinhos? Alguém renunciará à beleza ímpar do céu límpido do deserto, por temer os tormentos da sede?

Porventura o vagalume compara-se à estrela, se a sua própria luz lhe basta para iluminar os seus caminhos? É sensato o homem que inveja a riqueza alheia, se possui o que precisa?

Não; quem ama, não procura mensurar o seu amor. Como para aquele que sofre não importa a intensidade da dor; e ao homem que é feliz não preocupa a duração do momento.

Quem ama, vive o seu amor. E o respira em cada instante, o recorda em cada lembrança, o sofre em cada ausência, o reencontra em cada retorno. E ouve a sua voz em cada canção.

Sim; como sempre existe a criança mais ingênua, o crente mais devotado, o benfeitor mais generoso, o sonhador mais esperançoso, sempre existirá alguém que ama mais  

E este será o mais feliz, em todo caso de amor.
 

Vejam este vídeo belíssimo, que complementa a postagem: 

http://youtu.be/C14ERcpOaiU

ESTRELAS E MOMENTOS

As coisas mudam, a todos os momentos.

Comportai-vos, entretanto, como se nada existisse senão o instante presente. Como se as ondas do tempo não carregassem as vossas ilusões e os vossos desenganos.

Acreditais, acaso, que as vossas vontades possam deter o destino? Que a alegria ou a tristeza de agora possa repetir-se em todos os segundos do futuro que vos aguarda?

Alegrias e tristezas são como estrelas e ouriços, que o mar do tempo atira às praias da Eternidade, onde os vossos pés não passam de marcas na areia, que a próxima maré apagará.

É assim que é. Por mais que vos doa esta realidade, quanto mais cedo a aceitardes mais cedo aprendereis a direcionar as vossas necessidades e as vossas prioridades.

Porque, para o homem que julga ter apenas um instante de vida, o essencial é desfrutar cada segundo; mas aquele que acredita viver mais, sabe que necessita planejar o futuro.

Ninguém se dedicaria a arar o solo e cultivar as sementes, sem a esperança de poder fazer a colheita; nem a aprender, sem acreditar que venha a usufruir do conhecimento.

Esta, todavia, é uma certeza que não vos é dado possuir. Porque nenhum homem que caminhe sobre a terra sabe a duração de cada jornada, nem a data de sua partida.

Entendeis, decerto, que é preciso que assim seja. Pois é por não saber se vereis o próximo inverno, que para ele vos preparais, buscando a sobrevivência e o conforto.

Talvez que a ele não chegueis. Tende presente, contudo, que ainda que não venhais a utilizar os vossos agasalhos, estes a alguém servirão; e esse alguém vos será grato.

Assim, vivos estareis em sua memória. E a sua gratidão vos aquecerá, onde quer que estejais; porque o vosso verdadeiro Eu sobrevive ao corpo e habita na mansão do amanhã.

Certo é que os ventos do destino vos arrojam a sucessos e fracassos. Porém, como à estrela do mar acontece, não vos deve preocupar a praia onde vos lancem as ondas.

Porque o vosso tempo é a eternidade; e o vosso destino é o Coração do Universo. E assim estareis em vossa morada, onde quer que possais estar em cada momento.

Em outro local, o momento seguinte vos encontrará.